Um cão de guarda pode ser útil em diversas situações, mas é preciso tomar alguns cuidados na hora de escolher.
Quem quer proteger o seu patrimônio, seja residencial, seja comercial, sempre pensa em obter um cachorro. Com a sofisticação das empresas de segurança (com pessoal qualificado, equipamentos de ponta e, claro, alguns cães), no entanto, a escolha e aquisição de um cão de guarda se restringem praticamente à proteção das casas particulares e, neste caso, o animal não é apenas um vigilante, mas também o novo membro da família.
Os cachorros protegem as casas dos humanos desde que estes aprenderam a construir cabanas e as primeiras aldeias, talvez há cerca de 12 milênios (antes disto, os cães já acompanhavam os humanos em atividades de caça).
Basicamente, todos os cães são dotados de instintos de defesa (e de ataque), herdados do comportamento gregário de seus ancestrais, mas algumas raças foram desenvolvidas especialmente para conferir proteção e manter os malfeitores a uma boa distância.
O adestramento deve ter início logo que o filhote chega à casa nova, com ordens simples (“sim” e “não” são excelentes pontos de partida). O animal deve conhecer as regras e limites da casa e ser advertido quando não respeitar: ele precisa entender a sua posição na “matilha”.
Uma regra precisa ser lembrada: não existem cães ferozes. Eles se aproximaram dos humanos, na noite dos tempos, justamente por serem dóceis e obedientes, ao contrário dos seus primos que permaneceram na vida selvagem.
Existem, porém, cães transformados em feras, seja por falta de conhecimento (manutenção do animal em cativeiro permanente, falta de atividades físicas, de carinho, etc.), seja porque os próprios donos quiseram desenvolver estas características.
Os cachorros são animais valentes e leais. Em muitos momentos da história, eles marcharam para batalhas ao lado dos homens. No entanto, a humanidade parece ter um prazer perverso em trazer à tona os maus instintos da espécie: ao menos desde o simpático buldogue inglês, raças são criadas exclusivamente para o ataque e a luta.
Qual cão de guarda escolher?
Seja qual for a escolha da raça, no entanto, é importante informar-se com os responsáveis pelo canil, médicos veterinários e adestradores profissionais para identificar a melhor forma de desenvolver o potencial positivo de um cão de guarda e aproveitar as melhores características.
Utilizando técnicas erradas, corre-se o risco de transformar o animal em uma “máquina mortífera”, que pode atacar inclusive os membros da família (situação muito comum com animais ficam presos, sem qualquer distração), além de visitantes, empregados e, dependendo da raça, até mesmo vizinhos e transeuntes.
As descrições seguintes se relacionam a algumas das raças caninas mais empregadas, no Brasil, como cães de guarda. Os criadores, porém, estão sempre introduzindo novos espécimes, inclusive de raças recém-desenvolvidas ou reconhecidas pelas federações cinológicas internacionais.
Desta forma, escolher um cão de guarda depende de diversos fatores (constelação familiar e tipo de residência, por exemplo, mas também de critérios subjetivos). Uma relação de raças sempre será limitada (apresentamos apenas cinco, bastante empregadas para vigia e guarda), mas pode ajudar no momento da opção.
Bullmastiff
Abrimos a relação com uma novidade. Apesar de ter a sua história rastreada até meados do século XIX, o bullmastiff começou a ser reconhecido em 1924, mas o padrão da raça só foi detalhado pela Federação Cinológica Internacional em 1987 (é o estalão nº 157, para quem quiser conhecer os detalhes técnicos).
Uma das características do bullmastiff é o “bate-estaca”: no solo, é quase impossível derrubá-los.
Trata-se de um cão molossoide, obtido a partir do cruzamento de mastiffs e buldogues ingleses. Por volta de 1850, responsáveis por reservas florestais e fazendeiros britânicos estavam interessados em um cão mais silencioso e ágil do que o mastiff inglês, para reduzir o roubo de madeira e de produtos agropecuários, que estava se tornando comum em diversas regiões da Grã-Bretanha.
O “bull” realmente agrega estas duas características, tanto que foi escolhido como o melhor cão de guarda para atividades noturnas. Os cães da raça são fortes, velozes e ágeis, mas facilmente controláveis pelos donos ou criadores.
Pastor alemão
Durante muitas décadas, os cães da raça foram chamados pelos brasileiros apenas como “policiais”. Efetivamente, uma das especialidades dos pastores alemão é auxiliar em atividades de perseguição a suspeitos de crimes, de localização de drogas e contrabando. Muitos deles realmente pertencem às polícias do país.
Em “K-9” e na série “Rin-Tin-Tin”, não por acaso, os protagonistas são pastores alemães.
O “lobo alsaciano” foi desenvolvido inicialmente para trabalhar no pastoreio de vacas e ovelhas. As atividades de controle e vigilância desenvolveram a capacidade de proteção, alerta e ataque. É um dos cães de guarda mais populares do mundo.
Os cães da raça pastor alemão figuram nas primeiras posições em diversos rankings de inteligência canina. Um pastor alemão é leal, versátil, amoroso e devotado. Adora brincar e estar com os seus “humanos”, mas é fundamentalmente um cão sempre alerta a ruídos e movimentações estranhos.
A popularidade do pastor alemão, no entanto, provocou um efeito colateral. Muitos proprietários de cães da raça passaram a reproduzi-los sem maiores cuidados, gerando um grande número de indivíduos portadores de displasia coxofemoral. Ao escolher um destes animais como cão de guarda, é necessário certificar-se da idoneidade do canil e conferir o histórico de saúde (pelo menos dos pais e avós do filhote escolhido).
Rottweiler
Mais um nativo da Alemanha, cuja raça também foi criada para o pastoreio e a guarda de propriedades. O rottweiler é um animal inteligente e muito apegado à família, mas precisa interagir com outros humanos e cães, para aprender a ser sociável com estranhos, ou mesmo com pessoas distantes, que raramente visitam a casa.
O temido rottweiler, quando bem educado, é um excelente companheiro inclusive para crianças.
O treinamento de obediência deve ter início logo depois do desmame. Por ter lidado, durante séculos, com vacas e ovelhas teimosas, o rottweiler aprendeu a ser bastante incisivo em suas determinações. Este instinto é trazido ainda hoje e, se o animal não for educado de forma adequada (em alguns casos, é necessária a contratação de um adestrador), ele poderá se tornar uma ameaça e, claro, nunca será um cão de guarda.
Estes animais são excelentes companheiros, inclusive para crianças e idosos. As crianças pequenas e os idosos debilitados não devem ficar com um rottweiler sem supervisão. Mesmo que os animais sejam dóceis, todos os representantes da raça são impressionantemente fortes e podem provocar alguns acidentes.
Dogue alemão
Este é outro legítimo representante germânico. Também chamado de grande dinamarquês, o dogue alemão é um cão gigantesco. Imponente e elegante, ele impressiona pela inteligência, docilidade e equilíbrio. Com um dogue alemão em família, os únicos cuidados são impedir que ele derrube objetos – e até mesmo pessoas – ao entrar intempestivamente na casa.
Um dogue alemão arlequim, uma das variedades da raça.
Um espécime da raça, Zeus, residente no Estado de Michigan (EUA) entrou para o Livro Guinness de Recordes como “o cão mais alto do mundo” (ele media 1,11 m na altura da cernelha). Apesar da altura, a principal função de Zeus foi atuar como cão terapeuta, apresentando-se em hospitais, orfanatos, creches e asilos.
O dogue alemão não é um cão agressivo, nem precisa ser. Seu porte avantajado inibe a ação do malfeitor mais corajoso. Em condições normais, no entanto, os cães da raça são sociáveis, brincalhões e até mesmo divertidos. Eles são extremamente devotados aos donos.
Consta que, certa vez, no início do século XIX, um dogue alemão atacou um diplomata russo, ao vê-lo discutindo acaloradamente com Otto von Bismarck (o dono do cachorrão). O estadista alemão lançou as bases do Segundo Reich, que se estendeu de 1871 a 1918.
Os ataques dos cães da raça, porém, causam danos limitados: geralmente, eles apenas seguram um braço ou uma perna, para imobilizar o oponente e neutralizar o perigo. Contudo, por serem animais bastante fortes, uma simples mordida pode provocar fraturas sérias.
Fila brasileiro
Foi a primeira raça desenvolvida no país a receber reconhecimento das federações internacionais. O fila brasileiro é um cão de porte grande ou molossoide e a sua história está vinculada à colonização do país, quando os europeus trouxeram seus cães para guarda, caça, pastoreio e condução (eles chegaram a acompanhar bandeirantes, em suas incursões pelo interior do Brasil).
Também conhecido como onceiro e cabeçudo boiadeiro (e Brazilian mastiff, no exterior), o fila brasileiro herdou bons genes de seus ancestrais: a forte estrutura óssea dos mastiffs, o faro apurado dos bloodhounds (além das orelhas caídas e a pele cheia de barbelas) e a resistência dos antigos buldogues.
Um fila brasileiro tigrado, uma das pelagens permitidas pelo padrão.
O fila brasileiro é conhecido pelo seu temperamento forte – o que também pode ser chamado de teimosia. Não é um cão indicado para “marinheiros de primeira viagem”: o dono precisa ter pulso firme e muita experiência para conquistar a obediência de cães da raça.
Bem adestrados, no entanto, é difícil encontrar uma raça que seja páreo, nos quesitos de vigilância, alerta e guarda. É exatamente a “persistência” do fila brasileiro que desencoraja a ação de qualquer possível invasor.
O exército brasileiro realiza, há mais de uma década, estudos de diversas raças caninas, para identificar a mais apta ao trabalho de “cão de guerra”, muito mais rude do que o trabalho policial e de vigilância. Foram empregados, entre outros, dobermans e pastores alemães, em simulações muito próximas as conflitos bélicos.
Em diversos quesitos, o fila brasileiro apresentou os melhores resultados, tendo sido adotado pelo CIGS – Centro de Instrução de Guerra na Selva – como o melhor parceiro das tropas de soldados. Chile, Israel, Nigéria e Peru empregam cães da raça em suas operações de guerra e incursões na selva.
Outras raças
Os interessados em adotar um cão de guarda podem escolher entre:
• o dogo argentino – de pelagem predominantemente branca, eles são facilmente avistáveis, mesmo à noite, o que pode ser um fator de intimidação;
• o cane corso – uma excelente opção para quem quer participar ativamente do adestramento, uma vez que os animais da raça aprendem rapidamente;
• o weimaraner – chamado de “fantasma cinza”, por trotar lentamente, nos campos nevados, como se fosse apenas uma sombra cinzenta – até atingir o invasor;
• o doberman – apesar da má fama, canis responsáveis criam animais tranquilos e ajustados, com boa capacidade de conviver em família;
• boxer – possui olfato e audição apurados, identificando possíveis ameaças a distâncias consideráveis. Os cães da raça são fortes e têm caras de maus, mais um fator para manter os intrusos bem longe da casa.